sábado, 31 de outubro de 2009

FALAR MAL DOS MORTOS












FALAR MAL DOS MORTOS.



Chilon (século VI a.C.), magistrado e filósofo espartano, um dos sete sábios da Grécia antiga, ensinava regras singelas de conduta que estariam presentes em qualquer manual de auto-ajuda, gênero literário que faz sucesso nestes dias de carências, dúvidas e temores.



Nas suas máximas, coletadas fragmentariamente em Vida de Ilustres Filósofos, de Diógenes Laércio (século III), recomenda Chilon:



 Controla a língua…



 Cultiva recato no casamento...



 Respeita os mais velhos…



 Vigia a si mesmo…



Como se vê, nada diferente do que conhecemos. Há um senso comum, conjugando a sabedoria dos séculos. Exprime-se em máximas que operariam radicais mudanças na sociedade humana, se colocadas em prática.



Uma máxima de Chilon, utilíssima, fundamental, é pouco observada. Costuma-se fazer exatamente o contrário.



Recomenda o filósofo:

Não fale mal dos mortos.



Inicialmente, até falamos bem.



Num velório, à falta de ter o que dizer aos familiares, promovemos o finado ao exprimir nossas condolências:



– Coitado! Tão bom… Morreu!



Em breve, no próprio ambiente em que é velado o defunto, mudamos a postura. Evocamos suas fragilidades, defeitos e episódios menos edificantes que lhe marcaram a existência.



Lamentável desrespeito diante do companheiro de pés juntos, vestindo o “pijama de madeira”. Geralmente, os Espíritos desencarnados permanecem ligados ao corpo durante o velório. Carecem de orações, não de críticas.



Em face da turvação mental em que se situam, assimilam as vibrações geradas por observações descaridosas dos presentes. Sentem-se perturbados e aflitos, sem perceber o que está acontecendo.



O “defunto”, não raro, reage à maledicência.

O maldizente poderá dar-se mal.



Ocorre principalmente quando o desavisado tece críticas contra alguém de parcas virtudes, que esticou as canelas há algum tempo. Adaptado à vida espiritual, mas não convertido ao Bem, poderá causar-lhe dissabores.



No livro Missionários da Luz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Espírito André Luiz reporta-se a um episódio dessa natureza:



O autor e um companheiro foram à casa de certo homem, Vieira, que faltara a uma reunião na espiritualidade. Desejavam saber o que o impedira. O sono é breve viagem ao mundo dos mortos. Enquanto o corpo dorme, refazendo energias, transitamos pelas plagas do Além. São ensaios para a transferência definitiva, quando a senhora da foice nos convocar.



Os dois tarefeiros o encontraram em situação difícil.



Afastado do corpo em repouso no leito, Vieira quedava-se apavorado ante a presença de um Espírito que o ameaçava. O indesejável visitante explicou que durante o jantar, conversando com familiares, o dono da casa tecera considerações desairosas à sua pessoa. Ele captara as vibrações negativas da crítica e viera tirar satisfações.



Vieira tremia, descontrolado, incapaz de uma reação. Induzido por André Luiz e seu companheiro, despertou assustado, banhado em suor. Guardava a impressão de que estivera com o dito-cujo. Mas, sem autocrítica, não percebeu que ele viera cobrar-lhe a leviandade. Definiu a experiência como um pesadelo, que atribuiu a problema digestivo ou algo semelhante, sem perceber que nas fofocas contra o “morto” estava a origem de seu problema.



Chilon tem razão.

A piedade recomenda que oremos pelos mortos.

Manda a prudência:



Não falemos mal deles!



Richard Simonetti.

Do livro Luzes no Caminho.

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